quinta-feira, 24 de maio de 2012

Os Remates de Telhado Madeirenses

Fotos Miguel Nunes.


"A arquitectura tradicional madeirense não se mede pela leitura unilateral do imóvel. Ao seu redor, à superfície e à cobertura, persistem outros elementos arquitectónicos ou decorativos singulares da cultural local.

O costume de colocar nos acabamentos dos telhados pequenos objectos de barro ou de argamassa vem de há muito tempo. Se observarmos as casas mais abastadas, algumas solarengas em ambientes rural ou urbano, deparamo-nos com elementos figurativos mais simples, do tipo lanças mais ou menos esguias. São, em geral, apontamento sóbrios mas elegantes, de acordo com o panorama da arquitectura em geral.

No início do século XX generaliza-se o uso dos remates de telhado nas habitações madeirenses. Proliferam os mais diversos elementos figurativos: cabeças de meninos e de fidalgos, papagaios e pombas em repouso e de asas levantadas, cabeças de gatos e de cães, dragões e outros elementos geométricos. A variedade do material da cobertura acompanha a matéria-prima do remate.

Esta característica arquitectónica singular, tem sido esquecida pela maioria dos investigadores da arquitectura madeirense. Há pouco tempo a Junta de Freguesia da Freguesia de Gaula, em parceria com um grupo de amigos do património iniciou um levantamento exaustivo destes elementos. O estudo revelou um conjunto de dados interessantes, ao nível das formas de aquisição das peças, dos critérios decorativos e da dispersão figurativa dos exemplares.

Anos antes, a Associação de Arqueologia e Defesa do património da Madeira (ARCHAIS) iniciou um programa experimental de recuperação e valorização dos remates, após uma candidatura ao programa Líder+. O resultado dessa acção foi positiva, porque aquilo que até então era aparentemente invisível pela população em geral, passou a estar no plano visível da preservação.

Quem não conhece não ama. Ao conhecer, a comunidade passou a revelar um outro cuidado na manutenção destes elementos decorativos. A memória agradece e salvaguardaram-se pequenos restos de cultura que fazem da nossa identidade material um marco histórico-cultural."


Élvio Duarte Martins Sousa, Revista Rugas, Julho de 2006



Para mais informações consulte o livro: Remates, Telhas e Moldes. Gaula como Caso de estudo, Grupo Informal de Amigos do Património, Junta de Freguesia de Gaula, 2006.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Olaria no Arquipélago da Madeira

Local costumes (Madeira), 1890. Foto Vicentes.




A extracção da argila e posterior modelação e cozedura serviu para a confecção de objectos cerâmicos. Na bagagem dos povoadores que aportaram na Madeira e o Porto Santo no século XV vieram saberes e técnicas oláricas. A pouco e pouco, ensaiaram-se misturas de barro, modelos e formas para o uso no quotidiano insular.

Até à generalização do metal e do plástico as peças de olaria partilharam os ritmos do dia a dia. Auxiliavam o transporte de água desde os pontos de recolha (nascentes, poços, fontanários e ribeiras) até à serventia da cozinha e do banho quase sempre semanal.

Da funcionalidade diária, os objectos em barro passaram progressivamente a utensílio decorativo, tanto na forja da fotografia de estúdio, acompanhando o personagem envergando o traje típico, como nos jardins frontais das casas, quase sempre como receptáculos de flores e demais plantas.

Das longínquas olarias e dos seus artífices pouco se publicou e se estudou. 

É tempo de sublinhar esse tema e trazer ao conhecimento uma arte que exigiu técnica, estética e sabedoria.

Élvio Duarte Martins Sousa

Extraído de “Ir à fonte, guardar a banha. A cerâmica e o quotidiano em Machico (séculos XIX e XX)”,  no prelo.



The pottery of the Madeira Archipelago



Arquivo CEAM.




Extracted from "Ir à fonte, guardar a banha. A cerâmica e o quotidiano em Machico (séculos XIX e XX)”,  in press.


"The clay pottery followed the first settlers of Madeira Archipelago, from the first hall of the 15th century. Little by little there were tested clay mixtures and models to use everyday. Until the spread of metal and plastic the pottery jars shared the rhythms of everyday life. They assist the water transportation from springs, wells, fountains and stream and were used also in the Kitchen and in the weekly bath."

O Bolo de Milho Cozido na folha de couve

Colocação da "massa" pelas folhas de couve. Foto Élvio Sousa. (ES)

"O milho foi um dos alimentos que a globalização dos Descobrimentos trouxe à mesa dos portugueses. De confecção muito remota e introduzida na Madeira no tempo posterior ao cultivo da cana-de-açúcar passou a acompanhar o receituário local, afirmando-se na dieta alimentar do madeirense.

Dando continuidade à temática abordada no artigo anterior, dedicada à gastronomia tradicional, hoje vamos abordar a confecção de um tipo específico de bolo de farinha de milho cozido sob uma “cama” de folhas de couve. A recolha teve lugar no secular Sítio do Povo, Freguesia de Gaula, às mãos de Rita Heliodora Vieira Martins, mãe do autor deste texto.

No registo deste património cultural que se perde nos tempos do “antigamente”, compreendia-se que esta forma peculiar de bolo (que juntava aos ingredientes a farinha de milho, um pouco de farinha de trigo, batata doce, fermento e sal) era prática comum no tempo das couves. O processo de confecção acompanhava o fabrico do pão, com a particularidade do bolo de milho ir ao forno, numa primeira cozedura, antes da enforna do pão.

O modus operandi é muito simples. Depois de levedar cerca de vinte minutos, o bolo de milho é repartido às unidades pelas folhas de couve, utilizando-se água para alisar. Em seguida cortavam-se as arestas da couve de modo a que estas não interferissem umas nas outras e no próprio pão, que também ia a cozer.



Momento da "enforna". Foto ES
Procedia-se ao varrimento do forno, utilizando-se o varredor e o “puxa-brasas” e para formar e acoalhar testava-se uma primeira cozedura. Antes de ir ao forno e junto à pá proferia-se a seguinte uma oração: “Nosso Senhor te acrescente no forno, como a graça de Deus pelo Mundo todo”.


Foto ES.


Bolo de milho cozido na folha de couve. Foto ES.
Depois de acoalhado, era retirado do forno e, junto à lareira, tiravam-se as folhas que suportaram de base na cozedura. A característica do bolo é manifestamente reconhecível nesta fase: no fundo formam-se os negativos do “esqueleto” da couve numa perfeita alegoria à arquitectura daquela hortaliça no recheio da crosta do milho. "

Élvio Duarte Martins Sousa, publicado na Revista Rugas, Funchal, Abril de 2008, pp.18-19

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Fazer falar o silêncio da terra habitada



Fazer falar o silêncio da terra habitada


Púcaro de cerâmica comum do século XV, da área urbana de Machico, Madeira. Foto: Miguel Nunes.

Qualquer tentativa de sistematizar a problemática cronológico-cultural da arqueologia na Madeira resumir-se-á, efectivamente, ao momento preciso da humanização do espaço insular pelos portugueses no século XV. A criação das condições de habitabilidade, num espaço quase virgem, conduziu à construção de infra-estruturas básicas ao ritmo do povoamento implementado, traçando-se caminhos, levantando-se casas e igrejas, construindo-se mercados produtores de bens e serviços.

A diacronia do tempo habitado reserva-nos, então, no espaço quase sempre entulhado, um inegável observatório dos restos materiais das gentes do passado. Um acervo, digamos, quase mudo por natureza, mas que a interpretação e a inferência arqueológica em pouco tempo “descodifica” para um plano mais visível do conhecimento histórico. Deste modo, aquilo que aos olhos comuns parecem cacos, pedras e ossos, aos olhos de um profissional de arqueologia são documentos fundamentais para a construção da história do quotidiano no tempo dos Descobrimentos. Assim, a arqueologia da Época Moderna na Madeira percorre um horizonte de investigação sui generis do ponto de vista da estratificação da cultura material observada, pois, todos os materiais arqueológicos identificados nos estratos mais antigos serão, porventura, contemporâneos ou posteriores ao achamento e ao povoamento do arquipélago (SOUSA, 2006:35-40). O achamento serve-nos, assim, de terminus post-quem – um marco no tempo para além do qual as datações se deverão orientar.

O objectivo essencial deste breve artigo, como o próprio título sugere, é o de relevar a validade desses cacos e dessas pedras na reconstituição de um passado material que nos aparece sedimentado no solo e no subsolo madeirense. A noção elementar, na técnica e no método arqueológico, de que debaixo da contemporaneidade das nossas casas e das nossas ruas existem restos de uma cultura material que nos antecedeu é, na verdade, o raciocínio lógico que serve de contextualização para a leitura do passado soterrado. Com ele, ou seja, com a complexidade desse mundo material, sedimentado aos nossos pés, podemos chegar sem esforço ao paradigma de um estado normativo incipiente, com a agravante de não estar competentemente assegurado o acompanhamento técnico dos espaços com elevado interesse histórico regional. Como a perda não se resume, naturalmente, ao dogma “material”, somem-se irremediavelmente património, informação cultural e dados científicos, de elevado interesse nacional e mesmo internacional.

Passados mais de cinco anos após a promulgação da Lei N.º 19/2000 [1] de 10 de Agosto, a situação jurídica e institucional da gestão da arqueologia regional passou, infelizmente, à “cota zero”, utilizando uma expressão topográfica muito em voga na conceptualização arqueológica. Sem técnicos habilitados ao nível da tutela, sem requerimentos viáveis do ponto de vista técnico e científico, continua-se à sombra de um desajustado Artigo 9.º de um ido Decreto Legislativo Regional N.º 23/91M que subscreve que na Madeira “compete à Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Emigração autorizar escavações arqueológicas, devendo sempre a Direcção Regional dos Assuntos Culturais acompanhar os trabalhos nas respectivas estações, procedendo também ao inventário dos bens móveis de interesse arqueológico”.



Os dados arqueológicos e a construção do conhecimento

Um reconhecido arqueólogo norte-americano, Charles Orser, considerou os artefactos (dados arqueológicos, na nossa perspectiva conceptual) o “pão” e a “manteiga” da pesquisa arqueológica.[2] A analogia serve, a este título, para sublinhar que os dados arqueológicos (os vestígios materiais do passado, na forma de objectos ou estruturas) são o ponto de partida para o estudo do passado. A partir deles, o arqueólogo aproxima-se do domínio do entendimento social, económico e cultural, do indivíduo ou do colectivo.

O encontro do arqueólogo com a complexidade da sedimentação de terras, de detritos, de objectos e de estruturas concede-lhe a “descoberta” de um mundo que já não é o seu – um mundo de coisas tipologicamente desconhecidas, provavelmente com outros hábitos, outras modas e outros “sentimentos”. Assim, parafraseando Jorge Alarcão,[3] a função da arqueologia será, entre outras, a de descortinar a imediatez do objecto e desvendar-lhe o significado. A partir dele, pode o investigador – através da interpretação, que exige raciocínio e ciência – alcançar o conhecimento do Homem e da sociedade que o fez e usou.

Neste domínio, a inferência constitui o momento essencial do raciocínio arqueológico. Ora, se um fragmento de uma forma cónica de pão de açúcar se apresenta como um dado arqueológico, a dedução desse objecto cerâmico como um vestígio material do fabrico do açúcar revela-nos um facto, com implicações sociais, económicas e culturais. Deste modo, o arqueólogo constrói acontecimentos, tendo por base os vestígios materiais observados, que, por sua vez, são extensões de coisas e acções feitas num determinado momento. Da mesma forma que um historiador se baseia, para o estudo do passado, essencialmente, em documentos escritos, também o arqueólogo, com base nos dados materiais do passado, contribui na “reconstituição” dos acontecimentos históricos.

A interpretação arqueológica pode conduzir a leitura para um horizonte mais amplo, da História Social e Económica. Tomando o exemplo do púcaro de cerâmica comum do Século XV da ilustração que acompanha o texto, a interpretação pela inferência, independentemente de uma leitura técnica (natureza e composição das pastas, texturas e superfícies) ou estilística (aspecto decorativo, tonalidades, etc.), poderá atestar que a presença destas cerâmicas nas escavações é um testemunho da rede de relações comerciais (importação de cerâmica do continente português e da Europa) – e, neste sentido, a interpretação arqueológica aproxima-se de uma perspectiva de História Económica. Portanto, a aproximação à História Social reflecte-se na presença destas peças cerâmicas em espaços habitacionais de elevada estratificação social, daí que o dado material serve para deduzir a posição social do proprietário.

A análise macroscópica do objecto permite, também, recolher outras informações pertinentes relativamente à sua função e seu uso quotidiano. Neste aspecto, há que ter em consideração a cor e o estado das superfícies, os acabamentos, os pormenores decorativos, a cozedura, a textura da pasta e a presença dos elementos não plásticos. A mesma figura, por exemplo, mostra as paredes externas do púcaro ligeiramente carbonizadas. A observação autoriza, à primeira vista, duas possíveis indicações acerca do tempo de vida ou duração dessa peça. Em primeiro lugar, poderá atestar que o recipiente teve, na sua utilização quotidiana, uma relação directa com os serviços de louça de ir ao fogo, justificando-se o queimamento das suas superfícies externas. Em segundo lugar, o estado da parede externa poderá estar relacionado com o eventual abandono da peça, destituída da sua utilidade original, e, provavelmente, tendo como destino final uma área de entulho/lixeira, onde se faziam queimadas frequentes.

A interpretação dos dados arqueológicos conduz à inferência de leituras individualizadas, em estreita relação com as actividades quotidianas (alimentação, cozinha, comércio, vestuário, mobiliário, arquitectura dos espaços, entre outras). No caso abordado, o da cerâmica comum, a construção do conhecimento poderá ser encarada não só pela perspectiva de utilização social e económica mas, também, pela relação de uso e funcionalidade do objecto ou do imóvel no quadro das tarefas do dia-a-dia da Época Moderna ou Contemporânea. A esse nível, podemos chegar ao conhecimento dos hábitos e dos comportamentos quotidianos, com o estabelecimento de um quadro evolutivo da cultura material e da tipologia dos espaços construtivos. Até lá, continuamos, persistentemente, a validar a informação material pois, embora esta não carregue geneticamente um texto a duas ou três dimensões, tem a subtileza de se fazer “falar” no silêncio da terra habitada.


Élvio Duarte Martins Sousa


Bibliografia


ALARCÃO, Jorge (2000) – A Escrita do tempo e a sua Verdade. (Ensaios de Epistemologia da Arqueologia), Coimbra, Quarteto Editora.


ORSER, Charles (1996) – A Historical Archaeology of the Modern World, New York, Plenum Press.


SOUSA, Élvio Duarte Martins (2006) – Arqueologia da Cidade de Machico. A Construção do Quotidiano nos Séculos XV, XVI e XVII, Machico, CEAM – Centro de Estudos de Arqueologia Moderna e contemporânea.


SOUSA, Élvio Duarte Martins; NETO, Liliana e BRAZÃO, Fernando (2005) – O Aprendiz de Arqueólogo – A Lenda de Machim, Funchal, GIJDP/CEAM.


Texto publicado no livro: “Fazer falar o silêncio da terra habitada”, E depois? Sobre a cultura na Madeira, 1.ª edição, Funchal, Universidade da Madeira, 2005, pp.83-90.


[1] - Legislação que reconhece a competência dos governos regionais para a adopção de medidas necessárias e indispensáveis à realização de trabalhos arqueológicos, terrestres e subaquáticos e para o levantamento, estudo, protecção, conservação e valorização do património arqueológico, móvel, imóvel e zonas envolventes.

[2]  - “In many ways, artifacts are the bread and butter of archaeological research. Archaeologists have a strong commitment to interpreting the daily activities of the men and women lived in past societies, but they never forget that their field is largely a science of things.”(ORSER, 1996:108).

[3] - Jorge Alarcão, A Escrita do Tempo e a sua Verdade. (Ensaios de Epistemologia da Arqueologia), Coimbra, Quarteto Editora.

Os "Poios" a Património Cultural

Conjunto de socalcos, Maroços, Machico. Foto Manuel Nicolau.

Para quem vive na Madeira e pressente a necessidade de olhar e reflectir o espaço humanizado envolvente, depressa se aperceberá do engenho e da monumentalidade dos nossos poios.

Para quem nos visita – sobretudo, os turistas – essa visão do espaço e da conquista da vertente pela pedra talhada – deve constituir um factor de grande admiração e respeito. Na verdade, o Arquipélago da Madeira reúne, no presente, singularidades muito próprias que justificam efectivamente uma estratégia de valorização e de preservação daquilo que ele tem de exemplar e de original. Neste caso concreto, seria prioritário – para não dizer imprescindível do ponto de vista da preservação da memória patrimonial do madeirense – equacionar um programa de inventariação, seguida de classificação, de um conjunto particular destes socalcos que engalanam a paisagem da Madeira.

Neste capítulo, não deixa de ser oportuno referir uma passagem do livro de Vieira Natividade, "Madeira. A Epopeia Rural", escrito nos anos cinquenta do Século XX, em que o autor destaca a exemplaridade dos poios madeirenses: "E o homem, o pigmeu, atacou a montanha. Durante séculos não cessou o trabalho rude da picareta e da alavanca, e à custa de vidas, de suor e de sangue talharam-se na rocha as gigantescas escadarias, sem que o alcantilado das escarpas, a fundura dos despenhadeiros ou a vertigem dos abismos detivessem os passos do titã. Monumento este único no mundo, porque jamais em parte alguma, com tão grande amplitude, tanto esforço humano foi empregado na conquista da terra."

A paisagem construída madeirense apresenta-se como uma imagem inigualável de identidade para a vertente  turística. Reconhecendo-se que os últimos relatórios da Organização Mundial de Turismo têm salientado um aumento significativo na procura da oferta em relação ao património cultural, seja por esta razão ou, justamente, por uma outra – digamos, mais afectiva e de respeito pela memória de todos aqueles que construíram estes verdadeiros "monumentos" em terraços de pedra – constitui um dever cívico garantir a sua preservação e valorização, para o presente e para o futuro.
Recordo-me que numa viagem que fiz aos Açores, nomeadamente à Ilha de Santa Maria, observei com admiração a manutenção de um conjunto apreciável de socalcos, numa localidade à beira-mar. No longo caminho que percorri, em estrada pavimentada de alcatrão, não encontrei uma só parede de sustentação dos socalcos em pedra com um inestético recheio de cimento. Não observei a insustentável construção de casas à revelia de um planeamento integrado na paisagem e no espaço envolvente. Observei, na verdade, a construção de uma modernidade – com casas, carros, muros, garagens, estradas – em harmonia com a criação da história da terra envolvente, sem artificialismos nem pseudo-eventos históricos, comparáveis a modelos de entretenimento kitsch, do tipo "disneylândia" à portuguesa.

A preservação dos poios madeirenses deve ser pensada numa óptica de preservação da nossa identidade.

O desafio que se coloca ao turismo, no presente momento, é o de repensar a utilização dos recursos patrimoniais numa óptica de desenvolvimento durável, assente em critérios de qualidade e de autenticidade.

Construídos pelos portugueses e seus descendentes que povoaram a Madeira no Século XV, os poios são, verdadeiramente, uma "imagem de marca" da paisagem insular. Ao longo de cinco séculos sustentaram o cultivo da cana-de-açúcar, do vinho, da banana e, hoje em dia, quase que seguram os pilares de inúmeras habitações e apartamentos. De qualquer modo, ainda guardam na sua essência, o selo admirável do engenho do Homem.